Eu não
assisti ao programa, mas soube da história. O jornalista David Letterman
recebeu Joaquim Phoenix para uma entrevista.
O ator fez
jus à fama de bad boy: não parou de mascar chiclete e só respondia com
monossílabos e grunhidos, não facilitando o andamento da conversa. Letterman
tentou, tentou, e como não conseguiu arrancar nada do sujeito, encerrou a
entrevista com uma tirada ótima: “Joaquim, uma pena que você não pôde vir essa
noite”.
Quando uma
pessoa se dispõe a dar uma entrevista, tem que entrar no jogo: responder com
generosidade o que foi perguntado e valer-se de uma educação básica, caso
tenha. É bom lembrar que a maioria das entrevistas não é feita apenas para dar
ibope ao programa, e sim para ajudar na divulgação de algum projeto do
convidado. Ambos saem ganhando. Só quem não ganha é a platéia quando o
convidado finge que está lá, mas não está. Madonna é até hoje o trauma da
carreira de Marília Gabriela, pelos mesmos motivos.
Claro que há
quem defenda a atitude de Phoenix com o argumento da “autenticidade”, mas
existe uma sutil diferença entre ser autentico e ser grosso. É muita inocência
achar que podemos prescindir de uma certa performance social. Espero não estar
ferindo a sensibilidade dos “autênticos”, mas de um teatrinho ninguém escapa, a
não ser que queiramos voltar a viver nas cavernas.
Não sou de
me irritar facilmente, mas acho um desrespeito quando uma pessoa faz questão de
demonstrar que não compactua com a ocasião. São os casos daqueles que se
emburram em torno de uma mesa de jantar e não fazem a menor questão de serem
agradáveis. Pode ser num restaurante ou mesmo na casa de alguém: estão todos
confraternizando, menos a “vitima”, que parece ter sido carregada para lá à
força. Às vezes, foi mesmo. Sabemos o quanto uma mulher pode ser insistente ao
tentar convencer um marido a participar de um aniversario de criança, assim
como maridos também usam seu poder de persuasão para arrastar a esposa para um
evento burocrático. Não importa a situação: saiu de casa, esforce-se. Não
precisa virar o mestre de cerimônias da noite, mas ao menos agracie seus semelhantes com dois ou
três sorrisos, não dói.
Dentro da
igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa,
comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se.
Reencontrou um amigo, escute-o.
Ou faça de
outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-O. Durante um beijo,
dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar ajoelhe-se. Numa
festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore.
Esteja!
Se não
quiser participar, tudo bem, então fique na sua: na sua casa, no seu canto, na
sua respeitável solidão. Melhor uma ausência honesta do que uma presença
desaforada.
(Martha Medeiros - Feliz por Nada)
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